25 de setembro de 2019

RELATO ANTES DO MEU PARTO

Demorei a decidir como faria esse relato, não tinha certeza se queria eternizar tudo o que vivemos ate chegar aquele dia através de videos ou texto… Mas acredito que escrever seja a forma mais clara que eu tenho para descrever e explicar o que foi parir! Ao mesmo tempo que me deixa racionar e trazer clareza as palavras, é através da escrita que consigo me conectar ainda mais aos sentimentos que vivi até chegar naquele 25 de Agosto. 

Outra decisão difícil de tomar foi definir a partir de qual parte deveria começar esse relato, visto que essa historia tem muitos capítulos… Acontece que o medo de me tornar chata, redundante ou desinteressante me faz querer partir logo pro dia e a hora que tudo aconteceu, mas eu não posso simplesmente apagar os detalhes de tudo que vivi ate que eu pudesse chegar no dia que realizei o desejo mais escondido que havia em mim… e não vou! Não vou apagar cada detalhe que me fez chegar no dia que me conheci da forma mais bruta que alguém pode se conhecer, sem vergonha, sem pudor. Era eu e na forma mais carnal, mais real e mais viva! Não posso deixar pra trás esses detalhes. Então, começo aqui, a contar meu relato de parto, a partir do dia que soube que estava gravida, gravida da Luiza! 

Primeira parte.
Em Setembro de  2013, descobri minha gravidez da Luiza e um dia após receber a noticia daquele exame positivo, recorri a ginecologista que me acompanhava desde os 12 anos. Marquei uma consulta e fui tirar todas as duvidas e dar inicio ao meu pré-natal. Lembro que uma das primeiras perguntas que fiz, foi se ela fazia parto normal e a resposta foi negativa logo de cara. 
Estava certa de que abriria mão de ser acompanhada por aquela medica que me atendia ha mais de 10 anos, para procurar algum profissional que fizesse o meu desejado parto normal. 

A próxima ginecologista que fui, me atendeu com atenção, disse que fazia partos normais porem colocou diversas condições para realiza-lo, uma dessas condições foi que eu entrasse em trabalho de parto.  Como eu era nova e saudável, acreditei que mesmo com tantas condições conseguiria ter o meu desejado parto normal com aquela médica. 
Quando completei 37 semanas semanas de gravidez, ja estava com 2cm de dilatação e então a medica me recomendou repouso absoluto e marcou o parto para a semana seguinte, exatamente 21/05/2014, quando eu já estaria com 38 semanas! 
Mesmo insatisfeita, eu não questionei, só pedi a Deus que a Luiza me desse sinais que estava pronta para nascer! Dois dias antes da cirurgia (19/05/2014) , minha bolsa rompeu, as 22h! Era a resposta que eu queria, entendi que Luiza estava pronta pra chegar e minhas esperanças para parto normal ainda estavam vivas! 
Assim que percebi que a bolsa havia rompido, liguei pra medica que me orientou ir IMEDIATAMENTE pra maternidade e assim eu fiz!
Cheguei na Perinatal de Laranjeiras super bem, sem dores, sem contrações… Fiz minha admissão na recepção e subi andando junto com a medica para realizar alguns exames.
Troquei minha roupa por aquela camisolinha da maternidade e fui andando ate uma sala, que acreditei ser apenas uma sala de exames, mas quando abriram a porta, me vi dentro do centro cirúrgico, com uma equipe pronta, vestida e somente aguardando a minha chegada.

Parto Cesárea da Luiza
Deitei na mesa e a medica verificou através do toque que eu permanecia com 2cm de dilatação. Ela veio ate mim e perguntou: “E ai? Vamos ver essa bebê agora ou esperar mais 12h de trabalho de parto?” 

Imagina a cena?! Uma equipe inteira pronta, eu deitada e pronta na mesa de cirurgia, David do lado de fora aguardando pra entrar e assistir o parto e eu ainda precisava decidir aquilo? Na hora a única resposta que me veio foi: Vamos ver a neném! 
E dessa forma não tive a oportunidade de entrar em trabalho de parto.
Como num passe de magica, a equipe começou a trabalhar. Tudo aconteceu muito rápido, tão rápido que em menos de 30min, Luiza havia nascido, exatamente no dia 20/05/2014 as 00:33hs. Repare que entre minha bolsa romper e a Luiza nascer, passaram aproximadamente 2h. TUDO MUITO RAPIDO!

Minha filha nasceu, eu não a vi. Ela foi levada pelo pediatra para os devidos exames ainda dentro do centro cirúrgico e voltou pra mim ja limpa e enrolada num pano verde. Não pude segura-la ou senti-la, apenas cheirei seu rosto, beijei suas enormes bochechas e então, levaram ela novamente para longe de mim. 
Luiza só voltou 6 horas depois, quando ja havia amanhecido. 

Eu achei que tudo isso era normal e que fazia parte do parto… Não busquei informações, negligenciei um desejo e me deixei ser levada pela facilidade de ter uma medica que me atendesse pelo plano de saude, eu simplesmente abri mão da vontade de ter minha filha de forma natural, por pura comodidade. Depois de um tempo eu tive a noção que havia feito uma cesárea totalmente desnecessária e que aquele parto tinha tudo pra ter sido normal, afinal,  minha filha me avisou que estava pronta, mas eu não estava munida das informações necessárias para traze-la ao mundo da forma respeitosa e acolhedora que ela merecia, que nos duas merecíamos. 


Segunda parte.
Um dia, próximo da Luiza completar 9 meses, acordei menstruada, o que não acontecia desde que ela havia nascido. Imaginei que meu ciclo havia voltado e levei isso naturalmente. 
Meu fluxo sempre foi fraco e tinha duração de três dias no máximo, mas dessa vez estava forte e eu ja estava chegando ao 6o dia de menstruação e não tinha nenhum sinal de que estava no final. 
Achei estranho, mas segui achando normal por ser meu primeiro ciclo pós-gravidez.
No 7o dia, acordei, deixei Luiza na creche e sai para resolver algumas questões na rua. Num determinado horário, comecei a sentir umas cólicas estranhas. 
Voltei pra casa, deitei pra dormir pois a dor havia piorado bastante, até que acordei com dores insuportáveis e o fluxo exageradamente forte. 
Estava sozinha em casa, não sabia o que estava acontecendo, mas tinha noção que aquilo já não era normal. 
Muito sangue, muita dor e eu chorava sozinha no banheiro, me perguntando o que estava acontecendo comigo. 
Uma amiga medica me ajudou através do WhatsApp e me alertou que aquilo poderia ser um aborto.  ABORTO? Aquela possibilidade era real, mas eu não queria acreditar.
Depois de sofrer sozinha por algumas horas, sem saber o que fazer… Minha madrinha chegou pra me levar ao hospital.
A dor era tão forte que ela precisou me carregar ate o carro, quando de repente tive a sensação de ter algo escorregando de mim e toda aquela dor dilacerante acabou estantaneamente. 
Partimos pra Perinatal e constatamos um aborto espontâneo. Abortei um filho que nem sabia que estava ali, que não tive tempo de tomar conhecimento de sua vida. Abortei e senti dores pra ver um filho partir sem nenhum sentimento. Apenas partiu. 
Depois de alguns dias, eu e David ainda estávamos digerindo aquele sentimento, aquele medo e tudo que tínhamos vivido com aquele aborto e aos poucos eu fui tendo a certeza de que precisava passar por aquilo de novo, pela dor, pela experiencia de sentir algo nascer de mim,  mas agora, para ter vida e não morte. 
Foi tudo o que desejei. 


Posts que fiz no Instagram quando sofri o aborto em 2015

Terceira parte.
Havia pouco tempo que eu estava desempregada e consequentemente sem plano de saude quando descobri a gravidez do Caio. Isso era motivo suficiente para eu enfrentar alguns medos e dilemas durante essa gestação.  
Durante os 9 meses fizemos exames e consultas particulares, porem o que mais me deixava preocupada era o valor do parto. Sabia que custear um parto particular seria um desafio muito grande, pois pesquisamos diversos hospitais e equipes para fazer o meu parto e os valores eram quase impossíveis, porem eu e David estávamos empenhados em pagar para ter a tranquilidade de um acompanhamento seguro. 
Meu maior medo nesse processo, era precisar recorrer ao serviço publico, pois o que ouvimos falar nos jornais e todas as historias que li e soube sobre os partos em hospitais públicos, era tudo o que eu não queria vivenciar. 
Diante desses medos que eu ja estava enfrentando, o meu desejo pelo parto normal foi ficando em segundo plano, pois independente de cesárea ou normal, a minha única preocupacão era ter um parto seguro e eu acreditava que só teria essa segurança dentro de um hospital particular. 
Os meses foram passando, a gravidez avançando e eu havia encontrado uma obstetra que respeitou meu desejo pelo parto normal e um hospital particular que “cabia no bolso”. Aparentemente, tudo estava em ordem, mas meu coração ainda não estava em paz. Haviam algumas questões que não me deixavam relaxar. Uma delas era que se houvesse alguma emergencia e fosse preciso usar a UTI do hospital particular,  o valor a ser pago se tornaria astronomicamente maior. E para arcar com este valor, nós não estávamos preparados. 
Minha gestação foi saudável, com riscos habituais e não havia nada com o que me preocupar, mas como eu poderia simplesmente descartar qualquer possibilidade, visto que partos são imprevisíveis?
Num determinado momento, devidos essas possibilidades, começamos a ponderar a ideia de partir para o serviço publico de saude. 

Nessa nova caminhada, amigas me indicaram procurar por uma doula, assistir videos, buscar informações e me munir de todas as armas para me assegurar sobre o parto humanizado. 
Conversei com minha obstetra do particular, falei sobre todas as questões que me deixavam insegura e surpreendentemente ela me encorajou a seguir para o SUS. Me deu muito apoio, me explicou sobre os riscos, mas me deixou muito segura! Aquilo foi uma arma potente pra mim, me senti forte pra tomar a decisão de tentar meu parto normal humanizado realizado no SUS. 
Em poucas semanas, tudo mudou! Quando tomamos essa decisão, eu ja estava com 37 semanas e Deus providenciou cada detalhe desse novo plano que havíamos traçado. Contratamos uma doula,  decidimos a maternidade e fomos conhece-la, nos organizamos e buscamos as informações necessárias para viver esse momento da forma mais natural possível e a partir dai meu único trabalho foi aguardar o momento em que nosso bebê estaria pronto para vir. 

E finalmente, aquele desejo, que estava ha anos adormecido, tinha grandes chances de se tornar real. 

Gravidez do Caio

14 comentários:

  1. Amando acompanhar... aliás, amo acompanhar desde os bastidores rs. Sou completamente apaixonada por esse universo de parto normal humanizado e é o que vou buscar quando tiver o meu. Vou continuar aqui lendo tudinho. Lindo relato! Linda família ♥️

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  2. Lindo Relato. Super necessário todas essas explicações! Você é muito corajosa Lalá! Que Deus abençoe você e sua linda Família!

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  3. Aaaann quando sai a continuação?? Amando ler ��

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  4. Uau...quanta emoção esse texto conseguiu traduzir Laiz! Que venha a próxima parte /0/0/0/

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  5. Estou acompanhando esse relato com muita curiosidade. Continue escrevendo, tá?

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  6. Amei estou doida para saber o final do relato!

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  7. Conta para gente! Parabéns pela coragem! Deus abençoe ricamente sua vida e sua família!

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  8. Excelente relato, não ficou cansativo e me fez ter mais vontade de continuar lendo.. parabéns por ser tão detalhista e saber colocar seu sentimento nas palavras! Consegui sentir (um pouco, claro! Pq só vivendo mesmo) através de uma tela de celular pelo seu relato. Aguardando a continuação!!!

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  9. O único defeito foi que o relato acabou! hahahahaha fiquei com vontade de continuar lendo! Amei!

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  10. Que nostálgico ler um post aqui no seu blog que acompanhava sempre.
    Amei o relato Laiz e me deixou com um gostinho de quero mais.
    E não posso deixar de dizer que te admiro ainda mais, sua força e sua fé com toda certeza foram fundamentais nesse processo.
    Aguardo o próximo ❤️

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  11. Aguardando ansiosa para as outras partes. Te admiro muito!

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  12. Lindo ler o seu relato, sobrinha! Ele encoraja muitas mulheres que veem no parto normal um fantasma, algo extremamente ruim. Parabéns! Sigo acompanhando...

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  13. Como é lindo acompanhar mais uma etapa da sua vida. Realmente em video ia escapar alguma informação. Parece que estava conversando frente a frente com voce de tanto detalhe que passou e que enfrentou!! Ansiosa pelo proximo texto

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